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… e as alforrecas dominarão os mares!

 

Pelagia noctiluca
Por F Cardigos ImagDOP/UAc

Há uns dias atrás contactaram-me de uma publicação com distribuição nacional e pediram-me informações sobre alforrecas. Aparentemente, há um livro que defende a tese de que as alforrecas irão dominar o planeta e queriam saber o que pensava sobre isso. Tentei orientá-los para quem sabia mais do assunto do que eu, mas insistiram que queriam a opinião de uma pessoa que anda no mar e convive com as alforrecas na primeira pessoa.

Assim sendo… respondi: “as razões ainda são difusas e nem posso garantir que, em relação aos anos anteriores, haja mais águas-vivas nos Açores, como lhes chamamos por aqui. Aquilo que posso garantir é que incomodam mais!

Ainda ontem, estava a mergulhar no Monte da Guia, fazendo censos de uma alga invasora e, ao chegar à superfície, zinga!, fui tocado por uma Pelagia noctiluca, como lhes chamam os cientistas. A dor não mata, mas é como uma vergastada concentrada num único ponto. Depois, incha, irrita, arde e dói. Mais uma vez, não mata, mas chateia. Passadas 12 horas, apenas resta um leve inchaço ruborizado.

Este foi um caso pacífico. Em pessoas mais sensíveis ou nos encontros com espécies mais agressivas, as consequências podem implicar a aplicação de fármacos ou mesmo a ida ao hospital [*]. Quando o "toque" é dado por uma caravela-portuguesa, é mesmo necessário ir ao hospital [*]. Para além da dor se aproximar do insuportável, este exótico animal pode matar e mata mesmo...

Os Cnidaria, de que fazem parte as alforrecas, são dos animais mais antigos do nosso planeta. As alforrecas têm uma organização morfológica muito simples, mas são tão eficientes que não se extinguiram nos milhões de anos em que 99% das espécies jamais existentes desapareceram [*]. Para além do nosso respeito e distância de segurança, merecem a nossa contemplação e admiração. É que, para além da longevidade dos seus antepassados, são dos organismos mais bonitos que a água salgada nos oferece.”

Os Cnidaria, de que fazem parte as alforrecas, são dos animais mais antigos do nosso planeta. As alforrecas têm uma organização morfológica muito simples, mas são tão eficientes que não se extinguiram nos milhões de anos em que 99% das espécies jamais existentes desapareceram [*]. Para além do nosso respeito e distância de segurança, merecem a nossa contemplação e admiração. É que, para além da longevidade dos seus antepassados, são dos organismos mais bonitos que a água salgada nos oferece.”

Penso que foi uma resposta honesta ao que me perguntavam, mas depois fiquei a remoer… Não propriamente na resposta, mas mais na premissa de que as alforrecas irão dominar os oceanos num mundo em mudança climática…? A relevância desta afirmação que jamais poderá ser provada é igual à daquela outra que dizia que “depois do holocausto nuclear, o planeta será dominado pelas baratas!”, lembram-se?

Aliás, isso fez-me lembrar uma tese meio humorística que defende que tudo é previsível desde que aumentemos o factor tempo. Vulcões, tremores de terra, tsunamis, tempestades e outras manifestações da ira de Deus irão acontecer de facto, basta não definir bem o quando… Durante uma enorme ventania, um grande amigo dizia-me com a sabedoria científica que apenas ilumina os melhores “ainda vão vir dias de bom tempo!”. Como negar ou contrapor?! Genial!

Remoendo ainda mais, pareceu-me que eu estaria a pensar mal. Claro que devemos reflectir nos diferentes cenários possíveis até para tentar perceber como os resolver, se estes forem problemáticos. Mais importante, portanto, do que os oceanos serem dominados pelas alforrecas, é saber como evitar chegar a esse ponto. É que admitir um oceano dominado por alforrecas em detrimento das espécies mais complexas hoje existentes, equivale a admitir que regredimos centenas de milhões de anos na cadeia evolutiva. Tal não pode acontecer! Visto que os seres humanos apareceram somente há duzentos mil anos, isto é, claramente, uma questão de auto-preservação…

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